segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Todos os cachorros são azuis

Promessa é dívida, e depois de tanto prometer, tanto enrolar e procrastinar resolvi falar sobre o querido Rodrigo de Souza Leão.


Quem me apresentou a esse incrível escritor foi o Lorenzo, durante uma de suas aulas de oficina da palavra. Nessa mesma aula falamos um pouco sobre loucura, e fizemos um,a incrível leitura coletiva de um dos livros de Rodrigo ( Todos os cachorros são azuis ), achei o livro super sensível , profundo e bastante peculiar. Peculiar, pelo modo que a história é contada, pela forma com que o leitor é conduzido e também pela linguagem. A intenção de Rodrigo nesse livro, segundo ele era: aproximar a prosa da esquizofrenia. 






A razão de Rodrigo querer aproximar a prosa da esquizofrenia era simplesmente pelo fato de ele possuir essa doença. E no meu ver, esse é o diferencial de Rodrigo. 


Melhor que saber da trágica história de vida de Rodrigo, é apreciar sua 'lucidez louca', sua insanidade poética.


Fiquem com um trecho do livro "Todos os cachorros são azuis", além disso deixo um pequeno trecho da entrevista que o Rodrigo concedeu a jornalista Juliana Krapp, JB online.

Texto

Tudo ficou dourado. O céu dourado. O Cristo dourado. A ambulância dourada. As enfermeiras douradas tocavam-me com suas mãos douradas. Tudo ficou azul: o bem-te-vi azul, a rosa azul, a caneta bic azul, os trogloditas dos enfermeiros. Tudo ficou amarelo. Foi quando vi Rimbaud tentando se enforcar com a gravata de Maiakovski e não deixei.Pra que isso Rimbaud? Deixa que detestem a gente. Deixa que joguem a gente num pulgueiro. Deixa que a vida entre agora pelos poros. Não se mate irmão. Se você morrer não sei o que será de mim. Penso em você pensando em mim. Rimbaud tudo vai ficar da cor que quiser. Aqui não dá pra ver o mar. Mas você vai sair daqui. Tudo ficou verde da cor dos olhos de meu irmão e da cor do mar. Do mar. Rimbaud ficou feliz e resolveu não se matar. Tudo ficou Van Gogh. A luz das coisas foi modificada. Enfim me deram uns óculos. Mas com os óculos eu só via as pessoas por dentro.






Razão


"O meu processo foi o de tentar aproximar a prosa à esquizofrenia. Para isto, resolvi achegar a prosa à poesia. A linguagem natural de um louco é, digamos, um pouco poética. Quando um poeta diz, por exemplo, "guardei o sol em sete partes", usa uma linguagem específica. O sol não tem partes e nem pode ser guardado. Só num poema isto é possível. Por isso, o livro pode ser poético. Foi isso que busquei. Fiquei possuído por esse espírito e acho que não errei de todo.

Queria também ser ágil e um pouco diferente sem ser chato. Já existem muitos escritores herméticos e chatos, não queria ser mais um em que o hermetismo fosse o principal da narrativa. Mas nunca facilitei o texto. Usei também muito a repetição. Repetia que tinha engolido um chip, que engolira um grilo e outras coisas mais. Só não havia engolido espadas. Aliás, nem gosto muito de ver mágica e magia".



 Escritor, jornalista e músico, Rodrigo [Antonio] de Souza Leão nasceu no Rio de Janeiro/RJ, em 04 de novembro de 1965.



Se vocês quiserem saber um pouco da história do Rodrigo, entrem no site desse fofo, aqui. Tem mais textos, matérias, quadros pintados por Rodrigo, e muito mais. 


Vale a pena conferir!



2 comentários:

  1. Rodrigo De Souza Leão era um cara extremamente diferenciado e essa diferença o fazia gênio . de tudo o que ele fazia ,suas histórias que era o retrato fiel de sua vida,a forma como ele colocava a sua vida de uma maneira tão poética e tão bonita que nós entramos cada vez mais na história cada vez mais que lemos e cada vez mais que lemos sentimos algo diferente,e ele na sua maluquice,esquizofrenia o que é uma doença séria mostrava a muitos o quanto ele via,ele sabia,enxergava muita coisa o que muitos considerados normais não enxergavam.GÊNIO... que nos deixou e sua obra está ai.

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  2. Ontem estive na inauguração da exposição de quadros dele!

    Lembram que um amigo dele estava captando recursos pela internet para isso?

    Pois é: agora os quadros estão expostos no MAM. Ele só aprendeu a pintar nos seus últimos três meses de vida, então as obras não tem uma estética pronta e acabada.

    Mas dá pra sentir a força poética do Rodrigo nas imagens.

    Vou levar um catálogo pra Kabum e mostrar pra vocês.

    E, se puderem, vão lá visitar!

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